EMPREENDEDORES AUTOGESTIONÁRIOS E A SUSTENTABILIDADE

A SUSTENTABILIDADE DE EMPREENDEDORES AUTOGESTIONARIOS RURAIS E URBANOS

UMA BUSCA CONSTANTE

SUNDERHUS; Adolfo Brás[1]

A busca da sustentabilidade e um desafio que caminha por iniciativas as mais diversas e plurisociais integrando toda a sociedade há muitas décadas, o poder público e as organizações sociais, visando objetivos comuns dentro de uma visão de compartilhamento do poder e das decisões. E esta busca tem se ampliado ao final da ultima década do século passado e busca sua afirmação neste século.

Neste sentido os caminhos que experimentamos tem uma certeza que vão do resgate do conhecimento, das experiências individuais e coletivas e das tradições a integração com o conhecimento acadêmico e cientifico que somados apresentam-se como um esforço compartilhado ao processo de gestão da produção com respeito aos recursos naturais. Podemos assim imaginar esta construção alicerçada nos princípios da sustentabilidade social, produtiva, econômica e ambiental. Ousamos com esta atitude construirmos o capital social que e expresso pela capacidade das pessoas de trabalharem de forma conjunta e juntas conquistando objetivos comuns, ou seja, estamos construindo um víeis de desenvolvimento de trabalho e geração de renda através com o protagonismo das pessoas e/ou de suas organizações sócio produtivas.

Passamos a experimentar e vivenciar um novo paradigma quer seja da desconstrução do paradigma do paternalismo estatal pela construção do paradigma da qualificação e profissionalização destas organizações sócio produtivas do mundo urbano e rural tornando-os auto dependentes e auto gestores na solução de seus problemas, seja de natureza administrativa, de produção e de comercialização. Neste víeis estamos construindo um caminho, não novo, mas que a todo o momento, em toda tomada de decisão e pensado e gerido a partir do conhecimento e da realidade vivida por estas organizações sócio produtivas, ou seja, do acumulo dos novos conhecimentos e das novas práticas respeitando o tradicional saber destas organizações e de seus protagonistas, que é construído e passado de geração a geração.

Este conhecimento e sabedoria representam uma realidade que não pode ser desconsiderada quando se trata de promover sustentabilidade, pois acumularam ao longo do tempo uma riqueza de saber adquirido de experiências vividas nos aspectos de produção, relações sociais comunitárias e de natureza comercial que afetam diretamente as suas decisões. Pensar nestes empreendedores autogestionários como “um outro trabalhador formal”, significa de fato negar, ou não levar na devida consideração, os seus componentes sociais, culturais e relacionais que se diferenciam da realidade de outro trabalhador formal.

Neste víeis o empreendedor autogestionário apresenta-se como uma força viva produtiva e econômica que nasce, cresce, se desenvolve e torna-se maduro para produzir frutos. Este seu amadurecimento o consolida como não mais marginal, mas reconhecido no seu papel para a manutenção da família, revitalizando o espaço quer seja urbano ou rural, resgatando a cidadania e promovendo a sua valorização e o espírito de pertencimento e de identidade com este espaço social e produtivo. Forma-se assim um rico ambiente de dinâmicas produtivas e de natureza educadora (profissionalização e qualificação) e emancipatória (exercício da cidadania) que poderão oportunizar melhoria de sua eficiência, de sua rentabilidade e renda final mesmo quando os recursos possam ser aparentemente insuficientes. Estes quando e estando devidamente qualificados, capacitados e organizados nos propósitos da cooperação, da autogestão, da solidariedade, do desenvolvimento econômico das atividades produtivas poderão por si só viabilizar, facilitar e reduzir os seus custos otimizando as ações para solução de seus problemas comuns.

Começa assim a se construir um novo paradigma a partir de uma proposta educadora e emancipatória que têm alguns pressupostos e princípios que precisam ser evidenciados para colher o amadurecimento social e produtivo que geram frutos sadios e com possibilidade de disseminação e sustentabilidade, das quais destacamos:

1-      A conquista destes resultados esta diretamente associada aos conhecimentos adequados do que a do crédito fácil e abundantes que normalmente são indicados como o principal elemento de sucesso;

2-      O êxito esperado e sua conquista esta muito mais centrada na tomada de corretas decisões técnicas e produtivas, gerenciais e de relações interpessoais e de comercialização do que a partir das decisões políticas dos gestores públicos ensejadas em “suas políticas públicas”;

3-      Adotar uma visão e pratica em conformidade com a realidade vivida com a oportunidade de tornar os empreendedores autogestionários  muito, muito mais eficientes construindo uma nova estratégia que permita sua emancipação da dependência das excludentes propostas de natureza política e do víeis do capitalismo tradicional, tornando-os capazes de criar um novo conhecimento de natureza solidaria para que possam tomar com sabedoria a decisão de como agir e progredir economicamente utilizando todas as ferramentas disponíveis a partir da ciência associada ao saber tradicional, da tecnologia produtiva associada a sua experiência prática, dos princípios da administração empresarial aliada aos conceitos de autogestão e de princípios coletivos e associativos. Ou seja, disponibilizar as ferramentas do “mundo moderno” chamadas de eficiência, racionalidade e profissionalismo aqueles que historicamente cultivam saberes de solidariedade, de independência coletiva e de organização produtiva e social.

4-   Excluir o fracasso produtivo e econômico de sua realidade buscando minimizar os erros e as ineficiências através de sua natureza cooperativa solidaria e autogestionária. Para isto se concretizar todos os procedimentos educativos formais e informais não podem continuar a ignorar suas deficiências e debilidades que são importantes causas da pobreza e do subdesenvolvimento da sociedade. Neste sentido urge a necessidade de se tornar realidade a inclusão de conhecimentos, habilidades, aptidões e atitudes a este novo paradigma de modo que estes empreendedores adquiram o querer, o saber e a possibilidade de correção de suas ineficiências sejam elas de natureza social,  técnicas e produtivas, de gestão e de comercialização para aquisição de seus insumos e da sua produção.

5-   O crédito sem duvida e uma importante ferramenta neste processo emancipatório, no entanto a sustentabilidade deste desenvolvimento deve começar onde estão os conhecimentos, ou deveriam estar que denotem eficiência e emancipação das dependências destes empreendedores dos agentes financeiros convencionais que perpetuam e estimulam fortes dependências econômicas a partir do credito sem orientação e acompanhamento que alimentam a exclusão social produtiva e econômica.

6-      Gerar uma proposta de vivencia nas oportunidades locais e regionais com capacidade de prover os conhecimentos necessários aos empreendedores autogestionários aplicáveis para solução dos problemas no dia-a-dia de modo individual e em coletivo contribuindo para um processo educativo gerador de riquezas e receitas tornando sua unidade produtiva urbana ou rural mais eficiente e profissionalizada.

7-   Criar um circulo virtuoso de conhecimento e informações de modo que os empreendedores autogestionários aprendam a diagnosticar suas necessidades e problemas e a encontrar as soluções necessárias utilizando a sua natureza criativa, sua engenhosidade, sua capacidade profissional mesmo nos momentos em que os recursos financeiros disponíveis sejam muito escassos e suas condições de natureza física e produtiva sejam muito adversas;

8-   Criar o “currículo” do empreendedor autogestionário com formação educadora e emancipatória de capazes e aptos a formar uma nova geração de empreendedores capazes de aceitar as mudanças e inovações que são requeridas pela realidade vivida mas ao mesmo tempo protagonistas de suas ações e da tomada de decisões, substituindo o paternalismo dos governos pela sua ação autogestionária.

Esta mudança de paradigma tem como objetivo aumentar o ego, a autoestima, a autoconfiança daqueles que devem assumir o protagonismo e a liderança, na chamada era do conhecimento, de uma nova forma de gestão empreendedora, com maior eficiência e mais profissional mantendo sua identidade com sua realidade local e de natureza comunitária.

Outro aspecto importante a ser observado e a de que estes protagonistas podem oferecer uma contribuição relevante e significativa à solução dos problemas de suas unidades produtivas e de suas organizações sociais, mesmo sem recursos adicionais, centrado apenas naqueles disponíveis em sua realidade social, produtiva e econômica seja ela de natureza individual e/ou coletiva entendendo o que e como podem fazer para produzir com melhores rendimentos com redução dos custos por unidade produzida; com melhoria da qualidade dos produtos; com agregação de valor ao produto final; com melhoria do preço de venda e com melhor retorno financeiro e econômico. Constroem-se assim uma nova cultura centrada no entendimento de que o empobrecimento e o endividamento são frutos de uma insuficiente e inadequada política de geração de conhecimentos e informações a esta classe social e produtiva, sobretudo no acesso as políticas públicas que lhe proporcionam inclusão sócia produtiva e emancipatória, vencendo as políticas compensatórias que alimentam e geram exclusão.

CONCLUSÃO

Fica expresso o convite para que os “novos” empreendedores autogestionários venham a participar da construção e da afirmação desta proposta com um papel mais ativo na solução de seus próprios problemas dentro de uma lógica educativa e emancipatória adotando estratégias e procedimentos que permitam o conhecimento e o desenvolvimento das potencialidades individuais e coletivas, ainda latentes de modo que eles mesmos consigam adotar atitudes para evitar, corrigir e eliminar suas próprias ineficiências sociais produtivas econômicas e de comercialização.

Este ainda se expressa de forma mais forte e contundente instigando-os a uma autocritica e a uma mudança de atitudes no víeis de que os problemas não podem ser resolvidos adotando os modelos que os produziram, ou seja não podemos querer mudanças sustentáveis fazendo sempre o mesmo e da mesma forma que produziram os erros e os efeitos que hoje vivemos.


[1] Engenheiro agrônomo
CREA – ES 2146 D / 11ª Região
Graduação em Agronomia – UFES, Alegre – ES, Brasil
ÁREAS DE ATUAÇÃO
1-         Organização Social e Redes Solidárias
2-         Microfinanças sociais
3-         Análise de Cadeias Produtivas
4-         Custo de Produção dos Arranjos Produtivos Locais
5-         Projetos Captação de Recursos – Agropecuária
6-         Projetos de Recuperação Ambiental

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